Quando a Ecomunica nasceu, há exatos 10 anos, as agências de comunicação integrada pensavam separadamente as estratégias off-line das digitais – sendo que pouquíssimas tinham know-how para se aventurar digitalmente. A tendência, porém, apontava para um mundo sem fronteiras entre real e virtual, e desde o começo apostamos tudo nessa visão de futuro.
Na época, a precarização no trabalho das agências também era um incômodo, assim como a falta de investimento em capital humano e na qualidade de vida dos colaboradores. Por isso, desde o início, nosso objetivo foi construir um novo modelo de agência, mais inclusiva, diversa e sustentável. E que sempre teve os pilares ESG transversais tanto ao negócio quanto nas estratégias criadas com os clientes, algo pioneiro no mercado até então.
É nesse clima de celebração que olhamos para o passado e fazemos um novo exercício futurístico: investigar quais são as principais tendências em Comunicação para os próximos anos. Esperamos que, qualquer que seja o cenário, você esteja com a gente, construindo as bases da Comunicação da próxima década 😉
1) O fim das redes sociais (como as conhecemos hoje)
Essa tendência vem na esteira das últimas declarações de Adam Mosseri, head do Instagram, confirmando que a rede vai mesmo privilegiar vídeos curtos e testar recursos de recomendação de conteúdos – o que a torna mais TikTokizada.
Sendo assim, será que chegamos ao fim da era das redes sociais? É o que questiona Scott Rosenberg, editor-chefe de tecnologia da Axios, em recente artigo. Isso porque, conceitualmente, rede social é feita para que a gente acompanhe pessoas de quem a gente conhece ou admira. Mas o TikTok não se considera uma rede social, mas sim uma plataforma de vídeos curtos, que atua como uma poderosa ferramenta de recomendação. Ou seja: o algoritmo mostra no feed vídeos de qualquer pessoa que tenha conta na rede, a partir daquilo que o usuário gosta.
A consequência é que entramos na “era da recomendação”, na qual consumimos cada vez mais conteúdos que o algoritmo acha que vamos gostar. Mas também é a era da “ansiedade algorítmica”, na qual as pessoas criam conteúdo para “agradar” os algoritmos e pensam: “Será que estou vendo e consumindo o que gosto, ou o que me manipulam a gostar?”.
2) Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC))
Depois da tendência dos nanoinfluenciadores (criadores de conteúdo com mil a 10 mil seguidores) e dos genuinfluenciadores (criadores de conteúdo e personalidades que postam conteúdo genuíno e verdadeiramente útil), chegou a vez de “pessoas comuns” brilharem nas redes sociais das marcas – leia-se: qualquer pessoa que tenha conta nas redes, independentemente do número de seguidores.
Uma recente reportagem do Fast Company foi até mais incisiva ao dizer que a “era de ouro dos influenciadores” estava com os dias contados, uma vez que grandes marcas e agências digitais estão começando a alocar cada vez mais verbas de mídia social para conteúdo gerado pelo usuário (UGC, na sigla em inglês).
Isso tem muito a ver com o formato viral do TikTok e de seus algoritmos, que privilegiam vídeos de pessoas interagindo com a câmera, geralmente feitos de forma amadora, trazendo sensação de verdade e autenticidade.
3) Gerenciamento de crise de redes sociais
O grande rastilho de pólvora de uma crise de reputação hoje em dia ocorre nas mídias sociais – o que significa que um problema relativamente pequeno pode explodir numa crise gigante, se as marcas não monitorarem sua imagem nas redes.
De acordo com uma pesquisa da Crisp Thinking, 34% dos consumidores esperam que as marcas respondam a uma crise em até 30 minutos nas redes sociais. Já o Twitter revelou que 61% dos usuários acham que as marcas devem reconhecer momentos de crise em sua publicidade e comunicação quando eles estão ocorrendo. E quase 90% dos usuários de mídia social (segundo o SprotSocial) dizem que as empresas podem recuperar sua confiança durante uma crise, admitindo o erro e sendo transparentes sobre as medidas que estão tomando para resolver o problema.
4) O Media Training tá diferente
Não basta mais treinar os porta-vozes das empresas apenas para dar entrevistas à imprensa. A tendência da vez é as agências de PR treinarem as lideranças das companhias para assumir também o papel de influenciadores, criadores de conteúdo ou o que se chama hoje de Thought Leadership (algo como Liderança de Pensamento ou Liderança Temática), com forte presença digital e poder de influência no mercado.
Assim, cada vez mais, pessoas em cargos de confiança compartilham conteúdos, sempre informativos ou opinativos, demonstrando que são experts em determinada área, nicho ou tema. Isso pode tanto acontecer em ambiente digital, quanto no mundo offline, em palestras, cursos, produção de artigos.
Essa estratégia tem sido aplicada principalmente no LinkedIn e já trabalhamos Thought Leadership com vários de nossos clientes. Com ela, a pessoa fortalece a marca pessoal, com relevância e autoridade, já que compartilha informações úteis com sua rede. Toda essa boa reputação acaba sendo transferida para a empresa na qual o Thought Leader trabalha, que ainda se beneficia da chamada “humanização da marca”, aproximando empresas de seu público final.
5) User Experience (UX) aplicado à gestão de pessoas
Muito se fala em experiência do cliente das marcas (ou User Experience, UX), mas já existem empresas olhando para a Experiência do Funcionário (Employee Experience, EX). Trata-se de uma estratégia que tem tudo a ver com comunicação e Marca Empregadora, já que depende de como a companhia comunica seus valores e os aplica no dia a dia. A ideia é sempre tornar a experiência do colaborador inesquecível, a ponto de influenciar suas ações em prol do negócio.
Para isso, é preciso investir em tecnologia e comunicação corporativa, para que os colaboradores se sintam ouvidos e se integrem ao propósito da marca. Porém, o relatório Global Employee Experience afirma que apenas 9% das empresas escutam seus colaboradores e tomam decisões com base nesses feedbacks.
6) Soluções de conexão com colaboradores remotos
Desde que o home office e os modelos híbridos de trabalho se estabeleceram pós-quarentena, as empresas lidam cada vez mais com o desafio de criar conexão entre os colaboradores. Muitas vezes, equipes de áreas diferentes não se comunicam, e a companhia acaba sem unidade.
A tendência da comunicação interna e do endomarketing é, portanto, criar cada vez mais comunidades virtuais para que os colaboradores de diversas áreas interajam, espaços virtuais de diálogo e colaboração, cocriação entre as equipes, espaços de convivência e trocas digitais, workshops e salas de debate com temáticas de interesse de todos, como estímulo para a participação.
7) Hiperpersonalização
Imagine entrar numa grande loja de varejo e criar um vestido que corresponda à medida exata de uma pessoa. Pois a experiência de compra extremamente customizada é possível e tende a crescer.
Um exemplo é o recente lançamento da coleção Verão 2023 da marca carioca Lenny Niemeyer, que terá peças únicas, marcando um novo momento da grife: fazer roupas sob medida e personalizadas para clientes em busca de exclusividade. “Nem sempre conseguimos ter nas araras tudo que desfilamos. A venda no ateliê permite uma construção única, uma experiência exclusiva da nossa consumidora com a marca”, disse Lenny ao site da Bazaar.
O uso de dados, cada vez mais fundamental para as estratégias de marketing, também tem permitido oferecer produtos, serviços e soluções diretamente ligados ao que o cliente realmente precisa. Tudo porque utiliza algoritmos que dissecam e entendem o perfil de cada comprador – que, por sua vez, consegue resolver suas necessidades de forma rápida, eficiente e pelo seu canal de preferência.
8) Novas estratégias de marketing em respeito à privacidade de dados
Com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em vigor, e os usuários muito mais receosos a informar seus dados, profissionais de marketing estão reformulando estratégias de coleta de dados, para recuperar a confiança do consumidor. A Apple e o Google, por exemplo, estão eliminando gradualmente os cookies de terceiros, uma das principais maneiras pelas quais as empresas coletam dados dos clientes.
Agora, a tendência é que haja melhor qualificação, integração, uso e abordagem dos dados. Para que isso ocorra, as empresas tendem a usar seus relacionamentos com os consumidores de forma a aproveitar ao máximo os dados proprietários que possuem, enriquecendo seus planejamentos com informações de comportamento e atitudes obtidas com outras fontes. E isso é iminente no mercado: um estudo da McKinsey sugere que as empresas que não conseguirem adotar uma estratégia de dados eficaz podem acabar pagando até 20% a mais em marketing e vendas para gerar os mesmos resultados.
9) Comunicação Inclusiva (pra ontem!)
A mídia inclusiva não é uma tendência, mas sim uma pendência social. Só que, neste momento em que as pautas de diversidade e inclusão são urgentes nas empresas, intensificou-se a importância da Comunicação Inclusiva como parte fundamental de uma mudança de mentalidade social. Ainda bem!
E, nesse campo, há muito trabalho pela frente. Para se ter ideia, apenas 1% dos sites no Brasil são acessíveis (o da Ecomunica é um deles), num universo de 14 milhões de sites e portais – o que contraria, inclusive, a legislação. É inadiável que as marcas atendam um mercado consumidor que corresponde a 45 milhões de pessoas no Brasil e que, em perspectiva global, deve crescer cerca de 7% ao ano.
10) ESG ainda é o futuro
Inúmeros são os sinais de que o avanço do ESG pode enfrentar percalços bem complexos no próximos anos. Com a guerra na Ucrânia, fundos e bancos passaram a rever a exclusão de armas de suas políticas ESG, sob o argumento de que equipamentos militares podem ser usados para defesa ou dissuasão. Foi o caso do gigante sueco SEB (líder em sustentabilidade), que autorizou seus fundos a investir no setor militar, revertendo uma posição adotada há apenas um ano como parte do compromisso em investir com base no ESG.
Além disso, as críticas enfáticas de Elon Musk aos índices ESG, as buscas policiais a uma unidade do Deutsche Bank por suspeita de greenwashing, as críticas dos senadores americanos Marco Rubio e Mitt Romney à excessiva moralização do mercado corporativo, entre outros aspectos estão levando especialistas a questionar se é mesmo consistente a evolução exponencial dos ativos sob gestão preocupadas com o meio ambiente, desenvolvimento social e de governança.
É natural o surgimento de críticas e questionamentos, afinal, quando pensamos em governança, ainda observamos que são poucas as empresas que estão regulando e reportando iniciativas. Mas outros, como o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirmam que o ESG não é uma onda passageira – deve ser uma política transversal aos negócios, encarada como prioridade por todos os CEOs ou, então, as empresas talvez não sobrevivam.
A gente aqui na Ecomunica segue acreditando que a salvação do capitalismo passa pela adoção dos pilares ESG de forma estrutural e integrada nas empresas. Por isso, criamos o e-book Qual o Papel da Comunicação na Era ESG?, no qual falamos da importância da Comunicação Integrada para posicionar marcas e empresas num mercado cada vez mais exigente. Lá, você também encontra um roteiro de como aplicamos todo esse conhecimento na prática.
É nesse futuro que a gente aposta (e torce para que aconteça).