Avaliado em cerca de US$ 715 bilhões (equivalente a R$ 3,4 trilhões), os investimentos de impacto têm ganhado cada vez mais espaço entre investidores, que vêm demandando de empresas iniciativas ligadas a fatores ambientais, sociais e de governança, pilares da sigla ESG, em inglês.
Esse movimento é relativamente novo no mercado e surgiu para mitigar riscos de investimentos associados a más práticas corporativas que possam impactar no valor de mercado das empresas.
Mas, espere aí. Você sabe o que é investimento de impacto?
É algo que já falamos por aqui em outras ocasiões e de outras formas. É uma tendência de investimento que além de retornar aos acionistas, também (e principalmente) se interessa em estimular a preservação do meio ambiente e garantir um bom desenvolvimento para a sociedade como um todo.
Considera os pilares ESG com o principal objetivo de garantir que o dinheiro investido seja, de fato, direcionado a verdadeiras mudanças socioambientais. O impacto positivo, portanto, precisa ser tangível, mensurável e visto além dos processos internos – na “vida real”.
E mais: o investimento de impacto tem sido apontado como inevitável para o futuro pós-pandêmico. Como bem sabemos, a pandemia trouxe uma série de dificuldades e desafios para todo o mundo – mas o consumo consciente e as análises de riscos dos investidores continuarão ditando as regras, apontando quais empresas pertencem ao futuro e quais ficam para trás.
Adlai Wertman, um dos maiores especialistas em Empreendedorismo Social e professor do Marshall IBEAR MBA, programa da University of Southern California, cliente da Ecomunica desde 2013, explica que as grandes instituições financeiras e os donos de grandes fortunas buscam cada vez mais empresas que comprovam práticas ESG. E ressalta que as corporações que ainda não se mobilizaram para buscar soluções e iniciativas nesse sentido correm o risco de perder oportunidades.
“O investimento de impacto é uma forma de manter os investimentos de maneira que estejam alinhados com valores defendidos na vida pessoal. Vale lembrar que, ao contrário do que muitos podem pensar, investir em negócios que adotam políticas de impacto social garante retorno financeiro e ainda existe muito espaço para crescimento”
Adlai Wertman
O especialista explica que investimentos de impacto dão retornos equivalentes a qualquer outro no mercado financeiro, permitem que instituições e pessoas físicas apliquem em negócios que estejam alinhados a valores pessoais e organizacionais, além de levar em consideração o perfil de risco e metas de rendimentos.
A contrapartida desses aportes é que as empresas precisam apresentar dados e iniciativas que comprovem seu compromisso socioambiental dentro das esferas de ESG.
O assunto foi tema da masterclass “Investimentos de impacto para mudar o mundo”, apresentada por Wertman no dia 10 de novembro. O evento serviu como uma amostra das temáticas trabalhadas no IBEAR MBA oferecido pela Universidade do Sul da Califórnia (USC), uma das maiores escolhas de negócios dos Estados Unidos e que oferece bolsas de estudo de até US$ 50 mil (cerca de R$ 275 mil) para brasileiros.
O professor Adlai Wertman aceitou participar de uma entrevista para a Ecomunica, compartilhando valiosos insights sobre investimentos de impacto, iniciativas ESG e demais questões que circundam o tema. Confira abaixo:
Por que pautas ESG têm ganhado cada vez mais espaço nas empresas?
Adlai Wertman: Existem dois movimentos quando falamos sobre ações ESG nas empresas. Um deles foi puxado por investidores e consumidores, que passaram a cobrar as empresas sobre posicionamento e ações relacionadas a essa pauta.
Atualmente, não fazer isso pode ser um risco para o negócio do ponto de vista do mercado consumidor e de investimentos. Um marco para isso foi uma carta publicada há cerca de dois anos na imprensa pela BlackRock, maior gestora de investimentos do mundo, dizendo que todas as empresas deveriam apresentar relatórios sobre ações e práticas ambientais, sociais e de governança, buscando mitigar os danos e más práticas nessas áreas.
O outro movimento partiu de fundações que começaram a perceber contradições entre seus princípios e valores e em quais indústrias estavam fazendo aportes. Por exemplo, a organização que mais investia em agrobusiness também lutava para combater a fome e a degradação do meio ambiente no mundo. Era como investir contra os princípios dela mesma.
Isso gerou um grande problema, porque as gerações mais jovens querem saber onde e como o dinheiro delas está sendo investido. Isso é o que chamamos de investimento de impacto, quando a preocupação vai muito além do lucro e gera reflexões sobre onde estou investindo, como estou ganhando e se posso usar meu dinheiro para apoiar mudanças positivas para o mundo.
Essas mudanças trazem investimentos como uma rede de apoio em prol de uma causa?
Adlai Wertman: Existe uma tendência no mercado de investimentos que é o alinhamento de valores e interesses entre quem investe e a empresa que recebe o apoio financeiro. A partir disso, é possível esperar que as empresas tenham políticas mais eficientes de diversidade de gênero, inclusive em cargos de liderança, assim como ações que tragam impacto positivo a comunidades de um determinado local.
O investimento de impacto é uma forma de manter os investimentos de maneira que estejam alinhados com valores defendidos na vida pessoal. Vale lembrar que, ao contrário do que muitos podem pensar, investir em negócios que adotam políticas de impacto social garante retorno financeiro e ainda existe muito espaço para crescimento.
O relatório de 2020 do GIIN (Global Impact Investing Network) aponta que o investimento de impacto corresponde a um mercado de cerca de 715 bilhões de dólares. E esse número deve crescer ainda mais nos próximos anos.
Qual o cenário de investimentos de impacto na América Latina e em países em desenvolvimento?
Adlai Wertman: A América Latina tem recebido investimentos nos últimos anos que impulsionaram o seu crescimento. Fora dos Estados Unidos, as empresas estão começando a se alinhar internamente e existem dois caminhos para negócios desse tipo.
Há brokers que já se apresentam ao mercado como sendo especialistas em investimentos de impacto. E há as instituições financeiras que se apresentam de maneira mais neutra, oferecendo fundos de impacto social, alinhados à pauta ESG, entre outros mais tradicionais.
Isso acontece por meio da demanda gerada pelos clientes que viram nas empresas com boas práticas menores riscos de investimento. Ao serem cobrados e sentirem a pressão para aportarem em negócios de impacto, os fundos de investimento buscam por empresas em determinado segmento de atuação que sejam reconhecidas por suas iniciativas ESG. A partir disso, essas companhias passam a fazer parte de um fundo de investimento de impacto.
Quais os diferenciais do programa de MBA da Universidade do Sul da Califórnia (USC) para a formação de profissionais que atuarão com investimentos de impacto?
Adlai Wertman: Na USC nos concentramos no aluno, focando seu aprendizado e desenvolvimento para trabalhar com investimento de impacto no futuro. Abordamos os desafios globais e mostramos como é possível fazer negócios e criar empresas voltadas para investimentos de impacto de maneira sustentável.
Se falamos sobre mudanças climáticas e os danos causados pela degradação do meio ambiente, incentivamos a criação de produtos que possam reduzir os danos ou resolver aquele problema, como o carro elétrico. O aluno passa a perceber que ele pode ser um executivo de sucesso e ao mesmo tempo impactar positivamente a sociedade com um produto ou serviço que atenda uma determinada demanda. Portanto, em vez de buscar e aguardar uma doação, o aluno e a comunidade na qual está inserido podem criar uma solução que seja rentável e permita o crescimento para todos.
Com tudo isso que o professor compartilhou, uma coisa ficou bem clara: os pilares ESG têm influenciado cada vez mais as decisões de investimentos no mundo, e de uma forma muito mais profunda do que se tem notícia.
Nós, da Ecomunica, estamos constantemente revisando nossos valores, projetando nosso futuro e experimentando novas formas de comunicação que ajudem a garantir um alinhamento do que falamos por aí com o nosso jeito de caminhar. Inclusive, desenvolvemos um método para aplicar todo o nosso aprendizado nas marcas que confiam na gente e buscam o mesmo tipo de transformação na sociedade.
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