As fake news voltaram aos holofotes após o STF derrubar a Medida Provisória 1.068, chamada de MP das Fake News, que visava a dificultar a remoção de desinformação e discurso de ódio nas redes sociais.
A possível vigência desta MP trouxe à tona, novamente, reflexões sobre a urgência de se colocar em prática a chamada alfabetização para a mídia, ou educação midiática, conceito ainda pouco difundido no Brasil, mas que deveria ser matéria obrigatória nas escolas.
Inclusive, segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a alfabetização midiática é um direito fundamental de todos, uma vez que é preciso ter recursos para discernir o que é real e o que é falso.
E isso se torna ainda mais urgente quando vemos dados comprovados de que as notícias falsas se propagam muito mais rápido do que as verdadeiras. Em 2018, cientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) concluíram que as fake news têm 70% mais chance de serem compartilhadas e levam seis vezes menos tempo, em média, para alcançar os primeiros 1.500 leitores no Twitter. A conclusão é do maior estudo já realizado sobre a disseminação de notícias falsas na internet, publicado na Revista Science.
Assim, um dos pilares da alfabetização midiática é saber argumentar, baseando-se em fatos, dados, estatísticas e evidências (e não em opiniões). É a capacidade de confrontar a realidade com base na razão. E, para que haja, de fato, debate de ideias, é preciso também desenvolver o poder de escuta e o diálogo – atributos que estão um pouco em falta neste mundo tão polarizado e inundado de opiniões infundadas.
Nesse contexto, o papel do jornalista torna-se ainda mais relevante e um tanto mais explicativo. “O que vai diferenciar o trabalho de um jornalista de um criador de conteúdo leigo nas redes sociais é o preparo, a apuração, o cuidado com a informação. Seremos cada vez mais explicativos, desmembrando as coisas de uma maneira muito detalhada, às vezes explicando o óbvio”, disse o jornalista do William Marinho, do perfil Africanize, durante o painel “Fake News: a reeducação do algoritmo e da sociedade”, no último YouPix Summit. “Esse é um trabalho de formiga, diário, que não tem nenhum glamour, mas que é extremamente necessário nos dias de hoje.”
Em relação aos algoritmos, é importante lembrar que as notícias falsas e o discurso de ódio são sim compartilhados por robôs, mas são consumidos por pessoas. O cidadão comum precisa ter acesso a informações básicas como, por exemplo, que o simples fato de clicar numa manchete sensacionalista já conta como engajamento para determinado perfil ou site. E isso está nas mãos dos consumidores daquelas notícias, mas também nas mãos das marcas, que devem ficar atentas onde exatamente está sendo investido sua verba de marketing.
Por isso, aqui na Ecomunica a gente defende a educação para a mídia como um conhecimento essencial que deveria ser incluído na educação básica e difundido na sociedade, inclusive pelos grandes grupos de mídia. Nosso futuro depende disso