Diante dos últimos acontecimentos no leste europeu, entendemos que, por ora, não há tema mais urgente e relevante do que a guerra entre Rússia X Ucrânia, que colocou o mundo novamente às voltas com ameaças nucleares, a hipótese de uma 3ª Guerra Mundial e os fantasmas apocalípticos.
Um dos princípios da Comunicação é não estar alheia à realidade, não é mesmo? Por isso, decidimos abordar a comunicação na guerra neste blogpost. Isso não significa que todo mundo precise virar especialista em guerras e geopolítica, nem que as marcas tenham de dar opiniões sobre o que acontece no mundo (ainda que as manchetes da imprensa e o feed de todas as redes seja inundado pelo mesmo assunto). Posicionamento deve ser uma escolha coerente com a história e os valores da marca, com aquilo que ela defende em “tempos normais” e com o que ela vende.
Algumas marcas norte-americanas, por exemplo, decidiram encerrar suas operações em solo russo, marcando posição firme sobre os acontecimentos. É o caso da Boeing, Apple, Nike e Ford.
Mas é importante dizer que o silêncio também pode comunicar uma “posição”. Isso ajuda a entender quais momentos devemos calar, ou opinar e até polemizar. Outro ponto interessante é que posicionamento não, necessariamente, precisa ter aquele tom professoral, de explicar a situação na posição de especialista ou autoridade no assunto. Dúvidas sinceras, manifestações legítimas de angústia, empatia e reflexões também são modos de uma pessoa ou marca se mostrarem conectadas aos acontecimentos.
Antes de se posicionar, porém, é fundamental a gente se calçar de informações, dados, reflexões embasadas… Só que, numa guerra, quando há dois lados inimigos que tentam a todo custo nos convencer de suas versões e justificativas, ficamos reféns das narrativas. A mídia ocidental tende a seguir os discursos norte-americanos e europeus, sem muito espaço para questionamentos, nem para qualquer tipo de Comunicação Inclusiva – e com inúmeros casos de racismo e xenofobia nas coberturas da imprensa.
Já a mídia russa acabou banida das redes ocidentais, sob o pretexto de evitar fake news – o que empobrece a visão global do que está acontecendo na guerra.
Entretanto, um fato curioso é preciso ser levado em conta: pela primeira vez temos a oportunidade de ver uma guerra pelas lentes de civis, em tempo real e sem edição, principalmente no TikTok – o que tem levado essa guerra a ser apelidada de “Guerra do TikTok”.
É nesse momento que as narrativas oficiais (e tendenciosas) são quebradas por “frestas de realidade”. É pelas lentes dos TikTokers que estamos vendo que há ucranianos desarmados dispostos a se colocar diante de tanques russos. Mas há também aqueles que são atacados por milicianos compatriotas, ou outros que são preteridos pelas autoridades ucranianas na fuga do país, apenas por não serem brancos. É nas redes sociais que vemos idosos e crianças presos na Rússia por se manifestarem a favor da paz. E também soubemos que uma tripulação inteira de um navio ucraniano, que xingou os russos e foi dada como morta (versão trazida a público pelo presidente da Ucrânia), estava, na verdade, viva, recebendo comida e água dos adversários.
Ao mesmo tempo em que isso é incrível e mostra o poder democrático da web, há que se ter cuidado (e filtrar) com toda e qualquer informação que vemos nas redes, pois vivemos uma epidemia de fake news (não raro, imagens de outros conflitos e até de games são publicadas como se fossem atuais) e sabemos que a desinformação também faz parte das técnicas de guerra.
Estamos diante de paradoxos: ora vítimas se tornam algozes, ora os “maus” praticam ações de solidariedade. A realidade é que, nessa guerra, os únicos “mocinhos” são os civis inocentes – crianças, mulheres e idosos em risco, além dos homens impedidos de deixar o país, compelidos a pegar em armas e lutar. Só sofrimento, injustiça e tristeza. Tempos difíceis que aumentam a incerteza e a angústia, o que torna ainda mais desafiador se posicionar ou tomar partido.