O conteúdo que você produz é realmente acessível? Ele contempla as pessoas com deficiência visual, ou seja, com perda total ou parcial da visão?
Somente no Brasil, existem 582 mil cegos e 6 milhões de pessoas com capacidade reduzida de enxergar. A audiodescrição é um recurso de empoderamento muito importante, que amplia o acesso dos usuários à cultura, à educação, ao entretenimento e à informação.
“É uma tradução intersemiótica, isto é, tradução de um signo não verbal (a imagem) para um signo verbal (as palavras). Transformamos as imagens em palavras e são elas que fazem com que o usuário crie uma ‘imagem’ mental”, comenta Rosa Matsushita, audiodescritora, jornalista e professora (inclusive, é ela a responsável por formar o time da Ecomunica!).
A princípio, a audiodescrição pode parecer algo simples, mas se trata de uma técnica que contém diretrizes que precisam ser seguidas para não confundir o público.
E, antes de compartilharmos com você as melhores práticas para a produção de uma AD, que tal entender a diferença entre acessibilidade e inclusão?
Acessibilidade x Inclusão
Você sabia que, apesar de estarem intimamente vinculados, existe uma diferença de conceitos entre acessibilidade e inclusão?
Segundo Paulo Freire, educador e patrono da educação brasileira, a inclusão se manifesta quando “se aprende com as diferenças e não com as igualdades”. Na prática, a diversidade é a regra, e precisamos coletivamente reconhecer, compreender e conviver com o outro e suas necessidades.
Incluir é garantir para todas as pessoas que habitam uma sociedade os mesmos direitos e oportunidades.
Já a acessibilidade é fundamental em todos os processos de inclusão social, porque ela fornece recursos para que pessoas com deficiência possam participar de atividades individuais e coletivas com autonomia.
Como se faz uma audiodescrição?
Agora que você já sabe mais sobre o tema, é hora de conhecer quais são as melhores práticas para a realização de uma boa audiodescrição. Reforçamos que é importante fazer um curso com um profissional capacitado, como a Rosa. Muitos times de comunicação fazem legendas “#paratodosverem”, por exemplo, sem conhecimento técnico, o que pode comprometer a experiência das pessoas cegas no uso das redes sociais.
Para uma boa audiodescrição, antes de tudo, é preciso ter em mente que essa tradução tem um público alvo e, sempre que possível, recorra a uma pessoa com deficiência visual para qualificar o material que você produzir.
“A validação de um consultor é de suma importância na audiodescrição, porque ele é o usuário deste recurso. Somente ele sabe se o que um roteirista escreveu traz a real tradução da imagem proposta”, explica Rosa, apontando que a inclusão começa quando você confia no conhecimento e na experiência de uma pessoa cega.
- Utilize a regra do 1, 2 e 3
1 – Frase inicial curta e introdutória, resumindo o que o material mostra. Ex: Foto de duas pessoas;
2 – Descrição do assunto principal da peça. Ex: À direita, mulher branca com cabelos lisos e pretos, inclinada para frente. Ela segura com a mão esquerda um celular preto e usa camisa amarela. À esquerda, homem negro e careca usa jaqueta jeans azul, fone de ouvido verde. Ele está de olhos fechados e com os dois braços cruzados atrás da cabeça;
3 – Comente o cenário. Ex: Ao fundo, vê-se parada de ônibus branca com árvores sem folhas e com galhos secos ao redor.
- Não faça uso de certos termos
Pronomes possessivos como “seu” e “sua” podem confundir o usuário, que pensará que você está se referindo a coisas que ele ou ela possuem.
- Seja específica(o) na classificação do material audiodescrito
Outro erro comum é classificar tudo como imagem, principalmente quando ela é estática. De fato, são imagens, mas do que se trata? É uma fotografia? Uma ilustração? Um flyer de divulgação? Explicite isso e acerte em cheio.
- Sem spoiler: não interprete o que vê!
Um dos principais erros cometidos por audiodescritores iniciantes e estudantes de audiodescrição é atribuir juízo de valor na tradução visual. Evite descrever emoções – prefira falar sobre as expressões que você percebe. Em vez de escrever “garoto com olhar triste”, diga: “garoto olha para baixo”, ou algo semelhante. Deixe que o usuário do serviço crie as imagens em sua própria mente.
- Imagens dinâmicas (vídeo ou evento ao vivo): não perca o timing
Ao audiodescrever uma palestra, um vídeo de propaganda ou mesmo um filme, é preciso ter em mente que você poderá se deparar com diálogos. Utilize os espaços sem falas para descrever o essencial da situação, priorizando as ações, e tente passar o máximo de emoção possível. Para situar o usuário de detalhes como a descrição de personagens e de cenários, faça uso das notas introdutórias (ou proêmias), a serem lidas no início.
O que você precisa saber na hora de contratar um serviço de AD
Nas palavras de Rosa: “A primeira é conhecer o trabalho do profissional que será contratado. Peça o currículo dele e uma amostra dos trabalhos realizados por ele. Envie um vídeo de até 5 minutos e peça para que ele faça a AD. Dê uma olhada nas redes sociais. Conheça o consultor com quem ele trabalha”.
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Aqui na Ecomunica, nosso time é formado em audiodescrição para fazer com que nossos conteúdos cheguem a todos. Para nós, a comunicação só faz sentido se for verdadeiramente inclusiva, #PraTodosVerem