A Ecomunica falando de Turismo? Ué, mas esse não é um blog de uma agência de Comunicação Integrada?
Pois é: decidimos investigar mais a fundo esse tema, em primeiro lugar, porque o fim de ano está chegando, período em que muitos de nós aproveitamos para dar uma escapada da cidade, não é mesmo? Segundo, porque depois de um ano e oito meses de pandemia, todo mundo deve estar louco para marcar férias com direito a fazer mala e aproveitar a folga longe de casa. E, por último, porque a Ecomunica é também uma agência com muita experiência no setor de Turismo – ao longo desses 9 anos de existência representamos os bureaus de Turismo de diversas cidades como Courchevel, Le Havre, St. Barth e hoje cuidamos de uma das empresas mais disruptivas do setor, a travel tech PinX, plataforma de planejamento de viagens e benefício corporativo.
Ao acompanhar esse mercado de perto, vimos o quanto ele sofreu. Estima-se que, ao longo da pandemia, as atividades turísticas somaram prejuízo de R$395,6 bilhões, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E, apesar de sinais de melhora, impulsionados pelo avanço da vacinação no Brasil (a perspectiva da CNC é que o mercado turístico tenha alta de 19,8% no volume de receitas), será mesmo que já é seguro viajar?
Tá difícil fazer as malas…
É natural que essa retomada das viagens pós-vacina seja acompanhada de desafios, tanto para os viajantes quanto para o setor de turismo em si. “Neste momento, fala-se muito de ‘turismo de reabertura’, já que se trata de um período de reabertura de fronteiras internacionais em boa parte do globo, mas ainda repleto de restrições pandêmicas e regras de entrada e permanência turística que mudam com enorme frequência, sujeitas à flutuação de casos, novas variantes, contaminações, internações e óbitos nos destinos”, explica Mari Campos, jornalista especialista em Turismo e hotelaria de luxo.
Além do fato de que países da Europa e os Estados Unidos estão barrando a entrada de pessoas vacinadas com certos tipos de imunizantes, outro grande entrave, sem dúvida, é o dólar nas alturas, o que contribui para que as passagens de avião estejam bem salgadas. Com tantos obstáculos, viajar nunca foi tão complicado.
Para Mari, o maior desafio é compreender que a pandemia ainda não acabou. “É preciso lembrar que ainda não podemos viajar do mesmo jeitinho que fazíamos até 2019; a pandemia segue aí, vitimando centenas de brasileiros todos os dias. A vacinação nos protege, mas não nos impede da contaminação e, pior, de transmitir o vírus para outras pessoas”, diz.
Já Duda Guerra, co-fundador da PinX, os viajantes têm hoje os mesmos desafios de sempre, como provisionar-se financeiramente, encontrar tempo, pesquisar, planejar e comprar a viagem, além de respeitar os protocolos de segurança dos destinos e estruturas. Já os desafios do setor são bem maiores: “É preciso ser ainda mais criativo para atrair os turistas. Tem que mostrar que foi além das precauções necessárias e que estar lá é tão seguro quanto ficar em casa. Será fundamental estabelecer uma relação de confiança com o viajante, que pode estar inseguro para aproveitar amplamente os benefícios do destino’, diz ele.
Então… já é de bom tom viajar?
Mesmo com os desafios que ainda enfrentamos, o cenário é otimista. “Hoje, na PinX, temos 3 vezes mais viagens reservadas (para acontecer entre novembro 2021 e fevereiro 2022) do que já foram feitas”, revela Guerra.
Nos períodos mais críticos da pandemia, porém, o travel shaming (algo como vergonha de viajar) colocou turistas destemidos (e, muitas vezes, sem empatia pelo cenário delicado que vivíamos) contra os fiscais de quarentena, que expunham nas redes as condutas duvidosas de influenciadores, marcas e desconhecidos.
Foi assim que, em março, viralizou nas redes a personagem Keila Mellman, criada pela atriz Ilana Kaplan, que dá “dicas de etiqueta virtual” e promove reflexões irônicas, questionando se “é de bom tom” tomar certas atitudes, como furar a quarentena, promover aglomerações, sair por aí sem máscara, ou ostentar viagens e luxos, quando a Covid-19 vitimava milhares de mortos diariamente e boa parte da população passa fome.
No afã de minimizar os danos ao setor de turismo, algumas marcas colocaram suas reputações em risco. Foi o caso da companhia aérea Gol que, como parte do Movimento Supera Turismo, em junho do ano passado, período em que o Brasil ultrapassou a marca de 1 milhão de casos e 50 mil mortes por covid-19, lançou uma campanha com duas influenciadoras para fomentar o turismo doméstico. A ação foi alvo de inúmeras críticas e acabou suspensa.
Mas, com a aceleração da vacinação em todo mundo, a cobrança e o cancelamento nas redes diminuiu consideravelmente. “Só que o travel shaming ainda existe para quem estimula viagens sem os cuidados que o momento pandêmico obviamente ainda exige, aglomerações, modo living la vida loca”, garante Mari Campos.
Um novo jeito de turistar
O curioso é que, mesmo nesse momento delicado e que, infelizmente, tem perdurado, diversos hotéis e pousadas bateram recorde de desempenho e taxas de ocupação. Para Mari, isso teria duas razões: a hotelaria entendeu que adaptar as operações para oferecer serviços e experiência ainda mais personalizados é tendência para além da pandemia, e os brasileiros que conseguiram manter um padrão de vida elevado estão viajando e gastando em viagens mais do que nunca.
“É perfeitamente possível viajar, sair de férias, praticar hotel office etc; mas hotéis e turistas precisam ter em mente que as medidas sanitárias de controle da pandemia, como uso constante de máscara, distanciamento social, higiene e ventilação dos ambientes seguem tão essenciais quanto antes – ainda mais com a variante Delta por aí.”
(Mari Campos, jornalista especializada em Turismo)
Uma das novidades oferecidas pela hotelaria são os descontos agressivos para estadas mais longas, incluindo mudanças nas estruturas dos hotéis, como escritórios no quarto, coworkings modernos, wi-fi grátis e mais opções de lazer. Afinal, quem adere ao “hotel office”, também chamado de “workation” (work + vacation, que é trabalho + férias), ou bleisure (business + leisure, junção das palavras negócios e lazer em inglês), deseja ter estrutura para trabalhar e curtir momentos de lazer durante a folga. Aliás, temos uma linha cada vez mais tênue entre viagens de lazer e trabalho (já que muita gente tem previsão de se manter no home office, ou esquema híbrido em 2021).
Outras modalidades que fizeram sucesso nesse período de quarentena foram: o staycation (stay +vacation, ou ficar + férias), que é se hospedar na própria cidade ou destino próximo de casa; e o turismo de isolamento, que consiste em fazer isolamento social em locais sem aglomeração, como num sítio, ou casa na praia.
A modalidade slow travel (em tradução livre, viagem lenta) também tem ganhado adeptos. Trata-se de um estilo de viagem mais aprofundado nas experiências que o destino proporciona, que oferece significados além de belos cenários para fotos, além da necessária flexibilidade de roteiros e o menor deslocamento possível. “Muitos turistas finalmente começam a entender que o turismo sustentável e responsável é a única saída para praticar o turismo como conhecemos a longo prazo – e isso vai muito além da questão ambiental”, diz a jornalista.
E as viagens corporativas?
Outro segmento de turismo que sofreu bastante durante essa crise global é o das viagens corporativas. Segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), foi registrada queda de 40% no primeiro semestre de 2021. Com a adesão massiva ao home office, e soma-se a isso reuniões (e happy hours) via Zoom, que impulsionou essa queda, a hotelaria também foi impactada. Diversos hotéis voltados para o turismo corporativo, como o Grand Hyatt, em São Paulo, registraram ocupações em torno de 25%.
No entanto, em agosto, houve um aumento de 11% no segmento. Desse número, 65% de todos os voos realizados no país naquele mês foram viagens corporativas, sugerindo que o andamento da vacinação criou uma sensação de segurança, de que os encontros presenciais de negócios finalmente podem ser retomados.
E não é só isso. O cenário pandêmico puxou reflexões em torno do turismo e das práticas ESG, e diversas empresas já estão repensando ou estabelecendo políticas para avaliar as justificativas e a necessidade de deslocamento, visando uma redução no custo e nas emissões de carbono produzidas em suas operações.
O que o futuro próximo nos reserva?
Fato é que a necessidade de isolamento em função da pandemia acelerou transformações previamente em andamento no turismo. Uma delas é a centralização e a digitalização do planejamento de viagens, em um só lugar. Para Duda Guerra, é exatamente esta a bola da vez, mas ele alerta que “o setor ainda é muito tradicional e analógico”.
“O planejamento é parte fundamental para uma boa viagem. No caso da PinX, por exemplo, o usuário pode usar o serviço até como uma ‘poupança viagem’, em que ele recebe todo o apoio burocrático, até as melhores opções de passeio de acordo com o seu perfil, que mapeamos com a nossa ferramenta Bússola e Propósitos, disponível, para assinantes, em nosso site”, conta Guerra. E o planejamento, apesar da queda do turismo no País, manteve-se nos primeiros meses da pandemia e voltou a crescer a partir de julho deste ano.
A verdade é que ainda é difícil apontar como será o futuro do Turismo. As mudanças de cenário ainda são muito constantes. Mas, retomar as viagens parece ser uma vontade comum a todos.. “Depois de todo esse isolamento, as pessoas estão cansadas, e muitas ficaram deprimidas e estressadas por se manterem somente em casa, sem convívio social e novas experiências. Todo esse período afetou a saúde mental e o bem-estar de todo mundo que esteve confinado”, lembra Guerra. “Agora, queremos e precisamos sair de casa.”